Neste outono de 2017, a Novo Encanto (NE) celebra o Dia do Índio (19/04) junto a seus amigos Jurunas, da etnia Yudjá, colhendo frutos de um Sistema Agroflorestal (SAF) implantado na aldeia Aribaru, na Reserva Indígena do Xingu (MT).
Por 10 meses, no ano de 2016, cerca de 20 alunos entre crianças, jovens e adultos da comunidade Yudjá tiveram contato com técnicas de SAFs na escola indígena Bitahama, que trabalhou o conteúdo na disciplina de Agroecologia e Práticas Culturais com o apoio da NE em parceria com o MAIS (Movimento de Agroflorestores de Inclusão Sintrópica).
“Aprendi um tanto, na verdade, porque sistematizamos alguns conhecimentos que eles já tinham”, esclareceu João Gilberto Milanez, engenheiro florestal do MAIS e auxiliar da monitoria da NE na 13ª Região. Ele, que conduziu os trabalhos no plantio agroflorestal da aldeia, conta que foram apresentadas algumas práticas que os indígenas já observavam na floresta, como fazer a cobertura de solo.
Tradicionalmente, assim que ocupam um espaço, os jurunas incluem, para sua subsistência, uma área de roça cuja terra é preparada com o uso do fogo. Esta é uma técnica de cultivo já conhecida por muitos agricultores familiares. A curto prazo, a queimada pode favorecer a renovação da vegetação. No entanto, o resultado, a longo prazo, é o desgaste e empobrecimento do solo, fazendo com que seja necessário a busca por outra área de plantio no futuro.
A técnica da cobertura do solo desenvolvida em um SAF é uma nova forma de plantio que contribui para que os Yudjás não precisem usar mais as queimadas, motivo de atenção, atualmente, no Xingu devido às mudanças climáticas na região e aos desmatamentos no entorno, principalmente no tempo da seca: “a gente não precisou de fogo, só usou folha. O fogo preocupa a gente” relata Yãkarewa Juruna, diretor da escola Bitahama.
João Gilberto explica que o trabalho desenvolvido não tem por finalidade fazer com que os índios se distanciem de sua cultura de trabalho com a roça, mas, sim, que as roças possam se transformar em florestas de alimentos: “Já colhemos milho daqui e um tanto de plantas já estão crescendo e se desenvolvendo bem. A médio e longo prazo, teremos roças de alimentos consolidadas no Xingu”, projeta.
Os SAFs, ao proporcionar uma condição de melhoramento nutricional do solo, evitam a necessidade de troca de áreas de plantios. Para Payawá Juruna, liderança na Aldeia Aribaru, as agroflorestas são também uma forma de melhorar a qualidade de vida da comunidade: “a gente planta floresta e, daqui uns anos, vamos [sic] ter mata mais fechada, e a gente precisa fazer isso pra ter um lugar melhor pra viver”, afirma o indígena.
“Este trabalho simboliza o início de uma caminhada para a melhoria das condições de saúde nutricional dos povos indígenas, e é uma tarefa que exige um estudo constante que deve ser acompanhado nos próximos anos com o apoio da Novo Encanto”, afirma Teodoro Irigaray, presidente da Organização.
No Dia dos Índios, a NE publicou, em seu Blog, um vídeo mostrando esse trabalho realizado no Xingu. Acesse o endereço https://novoencanto.org.br/agrofloresta-no-parque-nacional-xingu/ e curta nossa Fanpage no Facebook (clicando aqui) para acompanhar os trabalhos de nossa Organização.
Conflitos indígenas no Brasil
A cultura indígena é a raiz da tradição brasileira. Permanece viva em valores e saberes adquiridos (na culinária, por exemplo, com ingredientes como mandioca, milho, peixe e feijão, ou em práticas medicinais usando plantas de cura).
Nossa dívida com esses povos ancestrais engloba tanto essa herança cultural, quanto as consequências causadas pelos sofrimentos gerados a partir dos primeiros contatos com os colonizadores brancos.
No início da colonização, estimava-se existir cerca de 5 milhões de indígenas distribuídos no território brasileiro, segundo relatórios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Hoje, o número é de aproximadamente 400 mil, centralizados em reservas.
Essa redução da população indígena está diretamente ligada aos conflitos de terra, os quais, até hoje, acontecem.
Atualmente, vivemos um delicado momento político. Em novembro de 2016, instalou-se uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a FUNAI (Fundação Nacional dos Índios) e o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Lideranças indígenas e seus aliados, como a Organização Não Governamental (ONG) Instituto Socioambiental, criticam o uso dessa CPI como instrumento de perseguição política e criminalização de adversários da bancada ruralista no Congresso, entre eles, além dos indígenas, antropólogos, servidores públicos, religiosos e até mesmo procuradores do Ministério Público Federal.
Em nota, após aprovação do texto principal do relatório dessa CPI, no dia 17/05, o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) afirmou que, na prática, o texto defende, entre outros retrocessos, a mudança nos processos para demarcação de terras indígenas e de comunidades remanescentes de quilombos, a extinção da Funai e a criação de um novo órgão que perderia o papel de coordenação dos processos de demarcação de terras indígenas” (vejam a nota, na íntegra, no site do CTI aqui: http://trabalhoindigenista.org.br/nota-do-centro-de-trabalho-indigenista-sobre-a-cpi-funai-incra-2/).
A Novo Encanto acompanha os movimentos relacionados às causas indígenas e apoia a permanência dos povos nas terras que são, por direito, deles.
Texto: Denise Farias.
Foto: Yakarewa Juruna.