No dia 22 de março, comemoramos o Dia Mundial da Água, uma data que marca e expressa a importância desse bem precioso da natureza.
Entre as iniciativas de tratamento e reuso da água que a Novo Encanto vem realizando, a Organização destaca essa que está acontecendo em Mairiporã, no estado de São Paulo. Em meados de 2017 a Direção desse núcleo, localizado em uma das principais reservas da Mata Atlântica do país, a Serra da Cantareira, decidiu investir na construção de um sistema sustentável e ecologicamente correto para tratamento de esgoto em parceria com a monitoria da Novo Encanto, para devolver uma água limpa ao meio ambiente.
O sistema resolverá definitivamente a questão do lançamento de efluentes no meio ambiente, uma vez que pode funcionar por muitos anos sem a necessidade de novos investimentos, sendo apenas necessária a (baixa) manutenção exigida por esse tipo de solução.
O projeto, ainda em fase de execução, prevê 2 biodigestores: um deles, o maior e principal, capaz de tratar o esgoto, gerar gás de cozinha, água limpa no final do sistema e adubo para recuperação da mata nativa; o outro, menor e secundário, receberá resíduos orgânicos triturados para transformação em biofertilizante às áreas de plantio. O sistema contará também com círculos de bananeiras para tratamento das águas cinzas e tanques com plantas aquáticas, que serão responsáveis pela limpeza final da água que sai do biodigestor principal.
O engenheiro civil e permacultor Guilherme Castagna, um dos maiores especialistas no tratamento natural e conservação de água do País, elaborou o projeto e acompanha sua implantação. Toda a execução vem sendo feita pela equipe de manutenção e obras do núcleo São João Batista coordenada pelo mestre de obras Willy Silveira de Freitas, orientada pelo engenheiro Castagna e com o apoio de Claudia de Paula Montanari, arquiteta especialista em meio ambiente que foi monitora da Novo Encanto no núcleo de 2015 até janeiro deste ano.
De acordo com Castagna, o trabalho está centrado no tratamento natural do esgoto através do biodigestor em substituição à atual fossa séptica, que será desativada posteriormente. Para isso, é necessário separar a água cinza (proveniente dos chuveiros e pias) do sistema de tratamento de esgoto, direcionando-a para a infiltração em círculos de bananeiras.
Segundo o projeto, após o esgoto passar pelo biodigestor, a água seguirá já quase totalmente limpa para tanques de zona de raízes com plantas aquáticas, em prol da revitalização da qualidade da água. “A gente não está lidando apenas com o tratamento do esgoto em si, mas com a revitalização da água propriamente dita”, afirma Castagna.
Guilherme Castagna explica: “Quando falo de revitalização estou falando de aspectos vitais da água. De aproveitar essa energia que está disponível na matéria orgânica, através do biodigestor, e direcionar como fonte de gás de cozinha. Depois aproveitar esses nutrientes pelas plantas aquáticas da zona de raízes e o que sobra de nutrientes infiltra em valas rasas pra poder chegar às plantas”.
Numa segunda etapa do projeto será construído o segundo biodigestor, bem menor e isolado do sistema principal, o qual receberá exclusivamente os resíduos orgânicos da cozinha que serão processados por um triturador de pia. A opção por separar o tratamento do resíduo orgânico do esgoto dos sanitários foi feita porque o produto do biodigestor de orgânicos da cozinha é um biofertilizante puro, que pode ser diluído (na proporção de 10 para 1) e ser usado em qualquer cultivo, inclusive de hortaliças.
Claudia de Paula Montanari foi a monitora da Novo Encanto no núcleo por três anos, período em que se iniciou o projeto, e continua acompanhando a obra até sua conclusão. Para ela, o mais interessante é que esse sistema poder ser implantado em qualquer núcleo, seja em construção ou um já consolidado. “Claro que uma reforma, a exemplo do que está sendo feito nesta área em Mairiporã, sempre demanda mais trabalho, mas é possível acontecer. E isso é muito animador”, afirma.
O problema da destinação de esgoto é algo que acontece no mundo todo. Nem todos os lugares têm tratamento sanitário e, mesmo quando tem, nem sempre tratam adequadamente. A forma mais economicamente viável e ecologicamente correta de se tratar um esgoto é realizar seu tratamento no próprio terreno: cada um tratando seu próprio efluente ou então um sistema maior para atender algumas casas numa vila, por exemplo. “É algo totalmente em sintonia com uma instituição que ama a natureza, que ama a floresta e preserva o meio ambiente”, afirma ela.
Claudia lembra que esse sistema é também uma ação educativa. “Ele nos ensina que, se a gente quer continuar com esse benefício maravilhoso de não faltar água, além de captar água de chuva é possível também reciclar a própria água do esgoto, devolvendo água limpa ao meio ambiente. E é autoeducativo porque é possível ver o sistema e aprender com ele”.
Outra vantagem de um sistema integrado com a natureza, ainda segundo Claudia, é que ele é bonito de se ver porque tem diversas plantas aquáticas emergentes e flutuantes, pode ter até peixes e um belo paisagismo em volta, como um jardim e algumas trilhas. Além disso, boa parte do sistema está acima do solo (biodigestor e tanques) o que facilita para as pessoas compreenderem o processo e se interessarem mais por ele.
A Novo Encanto investe na construção de um biodigestor e um sistema de tratamento de água e esgoto: exemplo de adequação para o uso responsável da água.
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Parabéns a Paula e toda equipe da Novo Encanto e Núcleo São João Batista, um belo exemplo de respeito à água e todo o ambiente e de mais uma ação sustentável.
Muito legal a divulgação dessa experiência e de muitas outras que vem acontecendo pelos núcleos ainda sem a divulgação suficiente. O Manual das boas práticas ABC, uma iniciativa coordenada pela saudosa Iara Reinke tem esse objetivo, inclusive de ser constantemente atualizado. Senti falta, na excelente matéria, de um pequeno esquema da obra, para que pudéssemos visualizar melhor a solução adotada. Parabéns à equipe de comunicação pela bela matéria e aos responsáveis pela concretização do projeto.
Parabéns pela iniciativa. Por estar em uma área de preservação, que faz divisa com a Reserva Estadual da Serra da Cantareira, o Núcleo São João Batista e outros dois núcleos localizados no mesmo entorno, o Rei Divino e o Menino Galante, desde a sua fundação procuram aprender a cuidar da melhor maneira possível dos recursos na área onde estão instalados. Em 30 anos de acupação, as práticas da irmandade já foram bem aperfeiçoadas, e o aprendizado e aprimoramento continuam.